Resumo
Estudos desenvolvidos pela Organização Mundial da Saúde sobre esquizofrenia e outras psicoses têm demonstrado, desde a década de 1970, que diferentes contextos sociais representam variáveis importantes no curso e no prognóstico do transtorno. Se a evolução de cada transtorno psicopatológico é fortemente impactada por variáveis socioambientais, além dos cuidados médicos específicos, as intervenções para a psicose devem incluir estratégias de gerenciamento que impactem a complexa constelação de variáveis relacionadas aos microcontextos sociais. Com o objetivo de desenvolver estratégias que auxiliem a reintegração psicossocial desses indivíduos e sua percepção sobre si mesmos, desenvolvemos oficinas expressivas em Centros de Atenção Psicossocial de uma grande cidade do interior do estado de São Paulo, como parte de projetos de estágio e extensão universitária. Com base em referenciais psicossociais e psicanalíticos, e nos trabalhos de Augusto Boal e Nise da Silveira, as oficinas expressivas de improvisação cênica e expressão artística visavam proporcionar aos usuários, especialmente àqueles que se expressam verbalmente de forma restrita, materiais e espaço para expressar conteúdos psíquicos de forma a organizá-los de acordo com seu ritmo de elaboração pessoal. Oferecidas a todos que quisessem participar, foram realizadas 12 oficinas por semestre, com uma participação semanal de 8 a 12 usuários nas oficinas de improvisação e de 4 a 8 usuários nas oficinas de expressão artística. A frequência constante e a participação ativa dos usuários nas oficinas indicam que elas são capazes de representar um instrumento válido como auxílio a outros tratamentos oferecidos a essa população, pois promove a expressividade de conteúdos psíquicos que permanecem fora do campo da linguagem, além de incentivar a comunicação, a autonomia e a reintegração social dos usuários.