Resumo
Os insetos representam o grupo vivente mais rico em espécies. Participam do funcionamento dos ecossistemas; prestando serviços essenciais ao nosso bem estar, como a polinização, produção de produtos como seda e mel, sendo uma fonte direta na alimentação. A entomofagia é o termo que caracteriza a utilização de insetos na dieta humana. Este recurso faz-se pleno na medida em que o cultivo de insetos exige poucos recursos, gera poucos impactos; apresenta baixo valor custo/benefício, contribuindo assim para a segurança alimentar. Barras de cereais contendo ou não insetos, foram utilizadas para avaliar a possibilidade de inclusão desse item no cardápio. A espécie utilizada em barras de cereais foi a formiga saúva Atta sexdens (Linnaeus, 1758). Os experimentos contaram com 120 participantes. Ocorreram avaliações em cinco categorias, sendo Aroma, Sabor, Textura, Impressão Global e Intenção de Compra. Os três painéis sensoriais contaram com receitas A e B. Algumas vezes, foram observadas discrepâncias entre as duas receitas, em particular quanto à “Intenção de Compra”, mesmo as receitas sendo iguais. A receita 3B foi a única com a presença de partes de insetos da espécie Atta sexdens (Linnaeus, 1758). Aparentemente, os participantes perceberam a presença dos insetos, já que partes dos mesmos foram adicionados em proporção significativa. O teste qui-quadrado foi realizado para analisar os dados entre os parâmetros em cada experimento. Apesar das diferenças observadas as mesmas não foram significativas para os experimentos 1 e 2. Para o experimento 3, único em que realmente ocorreu a adição de insetos o teste foi significativamente estatístico ao nível de 5%, para “Sabor”; “Textura”; “Impressão Global” e “Intenção de compra”. Os resultados fornecem insights valiosos sobre como fatores culturais afetam a avaliação de novos alimentos e destacam considerações metodológicas importantes na condução de experimentos desse tipo. A descoberta central foi a forte influência da sugestão na aceitação sensorial dos participantes. Isso ressalta a importância das crenças culturais e das expectativas na formação das preferências alimentares. Em contraste, aqueles que estavam abertos à ideia de consumir insetos mostraram-se mais receptivos e, em alguns casos, relataram uma aceitação positiva, sugerindo que a familiaridade e uma predisposição favorável podem diminuir o impacto negativo da sugestão psicológica. Entretanto, a sociedade evoluiu, as demandas aumentam e novos valores podem ser incutidos nas pessoas, como alimento mais saudável, ou ecologicamente correto. Há algumas décadas, no Brasil, existiam poucos restaurantes que comercializavam comida oriental, que contém peixe cru. Hoje essa prática está amplamente enraizada na nossa cultura. Fato relevante que deve ser apontado é o não relato de doenças veiculadas por insetos utilizados na alimentação humana, ao contrário do que acontece carne de vertebrados, que muitas vezes, quando preparadas sem cozimento, podem veicular agentes etiológicos de várias doenças.
DOI:https://doi.org/10.56238/sevened2024.029-044