Resumo
A modernidade e a pós-modernidade correspondem à extensão dos fenômenos globalizantes, impulsionados pelas novas tecnologias, tanto no campo da comunicação quanto nas interdependências econômicas geradas, destacando-se processos de construção de densas redes urbanas, onde foi possível alcançar o anonimato em relação às afinidades eróticas ou orientação sexual, vivenciadas em contexto comunitário. A ruptura no fluxo unidirecional entre sexo e gênero destaca esquemas de relacionamento assimétricos e estruturais, bem como modelos de pensamento enraizados. Esse colapso cisgênero foi, teoricamente, possível quando Rubin (em Vance, 1984), admitiu a existência de dois sistemas distintos de sexo e gênero, do ponto de vista analítico, operando, no entanto, influências mútuas até o nível da agência identitária e dos projetos de vida. Dessa forma, Rubin destacou as causas da descontinuidade entre sexo, gênero e sexualidade (Rubin, in Lewin, 2006, in Vance, 1984), vendo nelas a justificativa para um sexo biológico não necessariamente correspondente a um gênero. O paradigma dessa autonomia sistêmica máxima é alcançado na construção de uma identidade trasvesti em um contexto de prostituição transnacional. As travestis, constituindo-se como um grupo transnacional, marcado pela mobilidade de gênero e geográfica, primeiro dentro das fronteiras brasileiras e, posteriormente, em outra fase do projeto, para Portugal. A cidade, a prostituição e a migração emergem como fatores-chave na dispersão geográfica e na construção da identidade sexual/de gênero dessa comunidade. A linguagem e as gírias desempenham um papel importante nessa identidade.
DOI:https://doi.org/10.56238/sevened2024.010-039