Abstract
A prática médica exige, além de conhecimento técnico, sensibilidade, empatia e respeito. Nesse contexto, a visita domiciliar surge como uma ferramenta fundamental na formação de profissionais da saúde, proporcionando contato próximo com a realidade dos pacientes, o que favorece um cuidado mais humanizado e integral. O presente relato descreve a experiência de estudantes de medicina de uma instituição localizada no interior do estado do Amazonas, que participaram de visitas domiciliares organizadas pela equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) e pela faculdade. E em uma dessas visitas, acompanharam o caso de uma jovem de 19 anos, vítima de um grave acidente automobilístico, que ocasionou trauma cranioencefálico e internação prolongada em UTI. Durante a internação, a paciente evoluiu com pneumonia e necessitou de neurocirurgia, na visita encontrava-se acamada, com hemiparesia, dificuldades na fala, constipação intestinal e uma relevante perda ponderal no momento da visita. O ambiente domiciliar apresentava condições precárias, como ausência de ventilação adequada, colchão inadequado e um contexto de extrema vulnerabilidade social, familiar e de saúde.A equipe de saúde realizou avaliação clínica completa, orientações sobre medicação e encaminhamentos para atendimento especializado, incluindo fonoaudiologia, psicologia, nutrição e otorrinolaringologia. Os estudantes puderam acompanhar todo o processo, sendo instruídos sobre o manejo adequado da paciente e o papel da equipe multiprofissional. Essa vivência permitiu a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos em sala de aula, ao mesmo tempo em que sensibilizou os discentes para a importância de reconhecer as determinantes sociais da saúde. A experiência mostrou que pacientes em situações de vulnerabilidade exigem um cuidado personalizado e isso é alcançado na visita domiciliar, contribuindo também com a compreensão dos estudantes sobre a importância de enxergar o paciente de forma holística, respeitando suas necessidades singulares e promovendo um cuidado pautado nos princípios do SUS: universalidade, integralidade e equidade. Dessa forma, conclui-se que a participação ativa dos alunos durante as visitas domiciliares são uma ferramenta indispensável para a formação médica e pessoal, pois despertam nos estudantes o senso de responsabilidade social e o compromisso com a construção de uma medicina mais humana, efetiva e resolutiva, que considera o paciente em sua totalidade, não apenas como portador de doenças, mas como sujeito inserido em um contexto biopsicossocial.
DOI: https://doi.org/10.56238/sevened2025.011-068