Resumo
Introdução: A vancomicina é um antibiótico estratégico no tratamento de infecções por bactérias gram-positivas. Controvérsias quanto a sua posologia e monitorização se revestem de importância devido ao risco de nefrotoxicidade e à insurgência de cepas resistentes. Objetivos: Descrever padrões de prescrição da vancomicina para pacientes adultos, observar a administração da vancomicina, a coleta da vancocinemia e o momento do posterior ajuste da dose da vancomicina, além de avaliar a conformidade entre prescrição, administração e monitorização da vancomicina em Hospital Universitário (HU). Metodologia: Estudo transversal e prospectivo, que incluiu pacientes adultos internados em quatro enfermarias clínicas e cirúrgicas e em duas alas do serviço de terapia intensiva (SETI) em uso de vancomicina. Foram realizadas seis visitas às enfermarias de Clínica Médica, Neurologia e Ortopedia e cinco visitas a enfermaria de Cirurgia Vascular e aos SETIs, nos quais foram avaliados 67 pacientes e 989 prescrições, coletados dados do prontuário e observadas as rotinas de enfermagem e médica quanto a administração da vancomicina, coleta da vancocinemia e ajuste do antibiótico. Resultados: Não houve diferença entre as unidades quanto ao sexo, níveis basais de creatinina, tempo de internação, dias de uso de vancomicina e peso, com predomínio de pacientes mais jovens na Neurologia e com maior média de idade na Cirurgia Vascular. A dose de ataque foi prescrita em 83,8% dos pacientes, enquanto a diluição e o tempo de infusão foram prescritos, respectivamente, em 768 (77,6%) e 212 (21,4%) das prescrições. Os SETIs apresentaram taxas de adequação da dose de ataque e de frequência de prescrição de diluição e tempo de infusão estatisticamente superiores às das enfermarias (p 0,02, p 0,04 e p <0,001, respectivamente). Do total de diluições prescritas, 56,4% foram adequados. A Clínica Médica liderou na proporção de diluições corretamente prescritas (82,8%, p<0,05), em oposição ao Serviço de terapia intensiva – Ala 1 (SETI 1) e à Neurologia, os quais apresentaram as menores taxas de adequação, de 36,4% e 36,1%, respectivamente. O tempo de infusão foi prescrito corretamente em 169 (79,7%) registros. Na Neurologia, o tempo de infusão não foi prescrito em nenhuma vez e, na Ortopedia, em nenhuma delas foi adequado. Nos demais setores, o tempo de infusão, estava adequado na sua maioria, observando-se uma tendência discrepante entre as Alas 1 e 2 do SETI (p 0,058). Em análise SETIs versus enfermarias, verificou-se maiores taxas de adequação do tempo de infusão prescrito nos SETIs (p 0,003). Houve nove casos de reação cutânea à vancomicina (13,4%). Observou-se relação inversa entre a prescrição adequada quanto ao tempo de infusão e a frequência da apresentação de reação cutânea adversa. Foram observadas 56 administrações, com 32 (57,1%) em desacordo com o prescrito. Dos 59 pacientes em uso do primeiro esquema de vancomicina na internação há dois ou mais dias, 52 (88,1%) tinham pelo menos uma vancocinemia coletada, com a 1ªvancocinemia coletada predominantemente no 2º dia de antibioticoterapia em todos os setores. Não foi possível estabelecer comparações entre os setores acerca das coletas e ajustes de dose devido ao reduzido número de coletas de vancocinemia observadas. Dentre os 265 níveis de vancocinemia registrados, 132 (49,8%) foram classificados como adequados. A lesão renal aguda (LRA) desenvolveu-se em 13 (31,7%) do total de 41 pacientes avaliados para este desfecho e foi mais frequente nos SETIs comparado às enfermarias (p<0,001). Comparando-se o dia de antibioticoterapia com vancomicina em que cada paciente se encontrava na ocasião da dosagem da última creatinina e os valores da 1ªvancocinemia, verificou-se mediana de dias e níveis de vancocinemia superiores dentre os pacientes que desenvolveram LRA (p 0,06 e p 0,002, respectivamente). Conclusão: Há falhas na prescrição, administração e monitorização da vancomicina em todos os setores desse HU. O Serviço de terapia intensiva – Ala 2 (SETI 2) e a Clínica Médica foram os setores que melhor preencheram os critérios de prescrição adequada. Verifica-se necessidade de implantação de medidas de capacitação e treinamento dos profissionais, bem como de ações de fiscalização quanto ao rigor da prescrição e administração. Os dados de prontuário não se mostraram completamente fidedignos ao realizado na prática, no entanto, o estudo não foi capaz de reduzir a importância do prontuário como ferramenta de coleta de dados.
DOI:https://doi.org/10.56238/sevened2024.001-051