Resumen
Este capítulo visa a propor reflexões decoloniais que projetem formas de adiar o fim do mundo, a partir da aproximação entre educação e utopia. Este entrecruzamento – educação e utopia – tem como fonte de inspiração as leituras das obras dos pensadores Ailton Krenak (2019) e Vandana Shiva (2002; 2016), cujo propósito é o resgate de uma memória capaz de ativar imaginários absolutamente radicais para uma educação efetivamente intercultural. Por radicais, entendo a possibilidade de construção de uma práxis original-originária que aponte caminhos que movimentem as bases e, com isso, conteste os fundamentos dos saberes canonizados pelo status quo, responsáveis por naturalizar práticas de violências epistemológicas das mais diversas contra povos e nações, consolidando o que chamarei de regime epistemicida; ou seja, um conjunto de práticas que estruturam a marginalidade de saberes que escapam da produção eurocentrada e do norte global e se imbricam na produção de estereótipos que situam determinados corpos e sujeitos/as à margem do saber e do poder. Esse processo de consolidação do regime epistemicida deve ser compreendido, portanto, através da noção de colonialidade em suas múltiplas formas e expressões. Logo, ao lado dos autores previamente citados, aciono a leitura de Anibal Quijano (2005) Alberto Acosta (2018), Walter Mignolo (2003), Catherine Walsh (2007) e Alberto Galindo (1988) sobre a necessidade de crítica à perseguição pelo desenvolvimento imposto pela hegemonia do progresso e regida por atores internacionais descomprometidos com o bem viver dos povos considerados do terceiro mundo (ou ‘em desenvolvimento’), e busco pensar a dimensão da utopia como ferramenta crítica para a defesa de uma educação intercultural capaz de se opor ao regime epistemicida que se aprofunda diante das tecnologias da precarização ativadas no período de pandemia Covid-19. Logo, defendo que está na dimensão utópica uma importante ferramenta decolonial para atravessarmos o presente sem abrir mão de resgatarmos o passado para adiarmos o fim do mundo.
DOI:https://doi.org/10.56238/sevened2024.002-023