Resumen
INTRODUÇÃO: A terapia renal substitutiva (TRT) entre as modalidades de tratamento da doença renal crônica é considerada uma das melhores alternativas de manejo da doença, uma vez que melhora a qualidade de vida, sobrevida e morbimortalidade geral a longo prazo de pacientes neste contexto. O Brasil representa o terceiro lugar na colocação mundial em números de realização de transplante renal. No entanto, o transplante renal pode ter algumas complicações clínicas e cirúrgicas que precisam ser rapidamente identificadas, e se possível tratadas o quanto antes para melhor desfecho do paciente. As complicações urológicas mais prevalentes após a TRT envolvem fístulas, estenoses e refluxos na anastomose uretero-vesical, que em grau de força e evidência D acometem entre 5 e 10% dos pacientes submetidos em diferentes séries e estudos (CRANSTON D, LITTLE D. 2001). Mesmo que raramente letal, essas complicações são causa importante de morbidade e tem correlação direta a disfunção crônica e a perda do enxerto.
Em termos numéricos, o transplante renal representa cerca de 70% de todos os transplantes de órgãos no país atualmente. O Mário Palmério Hospital Universitário (MPHU) da cidade de Uberaba-MG realizou 17 transplantes renais somente no mês de janeiro de 2023.
Diante disso, esse artigo objetiva relatar quadro de complicação após a realização de um transplante renal realizado na instituição do MPHU. O objetivo é relatar um caso de fístula uretero-cutânea em um paciente submetido a um transplante renal, que necessitou de nova abordagem com reimplante ureteral. RELATO: Paciente R.R.S, 35 anos, portador de síndrome de down e doença renal crônica, submetido à transplante renal no dia 30/01/2023, recebeu rim direito que tinha presença de cisto e foi realizado marsupialização do mesmo na cirurgia de banco, tempo de isquemia de 21 horas. Implantado em fossa ilíaca direita com técnica de Linch Gregoir, sem intercorrências no intra operatório. Evoluiu no pós operatório com uso por 48 horas de drogas vasoativas. Apresentou diurese em sonda vesical de demora somente no terceiro dia do pós operatório (DPO). No 16° dia DPO, foi necessário realização de reabordagem devido persistência de oligúria e dilatação de ureter em ultrassom de controle. Foi evidenciado no intra operatório necrose de ureter implantado em terço médio, procedido à anastomose piélico-pélvica com uso do ureter nativo. Paciente evoluiu com considerável quantidade de diurese no pós operatório. No 7° dia pós operatório do reimplante ureteral apresentava débito em dreno tubo laminar maior que em sonda vesical de demora, indicado outra abordagem, em que evidenciou-se a presença de uma fístula de sistema coletor em região de cisto marsupializado previamente, sendo então submetido a rafia de fístula e posicionado surgicel. DISCUSSÃO: As principais complicações urológicas após transplante renal são: obstrução urinária, fístula vesical, fístula urinária por necrose de ureter e estenose. Em se tratando das fístulas, estudos demonstram que doadores mais idosos podem ter relação com o surgimento dessa adversidade, bem como o tempo de isquemia fria aumentado, sendo esse último fator presente no caso descrito. Além disso, a ausência de padronização do tipo de implante ureteral e a carência de estudos abordando esse tema, permite questionar a possibilidade de relação entre o tipo de técnica escolhida e a incidência de fístulas urinárias. Ademais, o surgimento da fístula na marsupialização do cisto é algo que ainda não foi descrito na literatura médica, o que demonstra a demanda por mais pesquisas na área, a fim de atingir maior grau de excelência técnica em benefício dos transplantados.
DOI:https://doi.org/10.56238/sevened2024.001-031